Ontem à noite, passando pela Av. Rio Branco, no Centro do Rio, mais especificamente, saindo do Edifício Av. Central, tive a grata surpresa de me deparar com um violinista que ali se apresentava, capa do violino aberta no chão, servindo de repositório à espera de uns trocados de quem por ali passasse.
O homem era jovem, devia ter seus trinta e poucos anos, vestia roupas comuns, estando até abaixo do patamar do que se pode chamar de “bem vestido”, mas tocava divinamente bem! Nos poucos minutos em que tive o prazer de ouvir aquela música - a clássica “As quatro estações”, de Vivaldi - experimentei uma enorme sensação de paz e tranquilidade, calando-se temporariamente para mim, o barulho das buzinas e dos motores dos carros que passavam.
Decidi então me aproximar para ficar ouvindo mais um pouco, quando de repente, antes que eu pudesse chegar até onde estava o artista, a música foi abruptamente interrompida, bem no meio da sequência melódica, por dois policiais municipais que começaram a interpelar não-sei-o-que ao jovem violinista.
Eu, que, embora estivesse em cima da hora para um compromisso, também estava ávido por continuar ouvindo o concerto, fiquei parado, olhando a cena, curioso para saber o que aqueles policiais falavam ao rapaz. O que poderia ser tão importante que pudesse justificar a interrupção de uma apresentação tão bela?
Tomando, obviamente, os devidos cuidados – a Guarda Municipal do Rio de Janeiro tem se mostrado bem violenta nos últimos meses – fiquei de longe, como quem olha a paisagem, observando o que acontecia, para saber aonde aquilo iria dar. Não consegui: passados três ou quatro minutos, a conversa estava agitada, o jovem músico gesticulando e argumentando com os policiais, e eu, já atrasado, resolvi ir ao meu compromisso.
No caminho, fui imaginando como seria bom se a Prefeitura, ao invés de interromper uma apresentação de música clássica, que normalmente não é acessível, senão a pouquíssimos privilegiados, e que estava acontecendo ali, ao ar livre, para todos que passassem, resolvesse fomentar, e até promover momentos como aquele, subsidiando artistas como aquele jovem violinista para que possam se apresentar à população, montando arenas para isso, por exemplo, ali mesmo, no Largo da Carioca.
Esse tipo de subsídio não é gasto, não é custo, é investimento em cultura; é uma forma de mudarmos o comportamento da população, sua maneira de ver o mundo; é o primeiro passo para diminuirmos o abismo cultural existente entre aqueles que têm a oportunidade de se desenvolver culturalmente e a imensa maioria da população, que vive para suprir suas necessidades básicas.
Muitas são as ações a serem realizadas pelo Poder Público para melhorar a vida das pessoas, mas, por mais numerosas, imperiosas e urgentes que elas sejam, nada impede o incentivo à cultura, porque somente com ela formaremos um país verdadeiramente desenvolvido.
Grande abraço.
Douglas Drumond.