terça-feira, 6 de setembro de 2011

O Concerto

Ontem à noite, passando pela Av. Rio Branco, no Centro do Rio, mais especificamente, saindo do Edifício Av. Central, tive a grata surpresa de me deparar com um violinista que ali se apresentava, capa do violino aberta no chão, servindo de repositório à espera de uns trocados de quem por ali passasse.

O homem era jovem, devia ter seus trinta e poucos anos, vestia roupas comuns, estando até abaixo do patamar do que se pode chamar de “bem vestido”, mas tocava divinamente bem! Nos poucos minutos em que tive o prazer de ouvir aquela música - a clássica “As quatro estações”, de Vivaldi - experimentei uma enorme sensação de paz e tranquilidade, calando-se temporariamente para mim, o barulho das buzinas e dos motores dos carros que passavam.

Decidi então me aproximar para ficar ouvindo mais um pouco, quando de repente, antes que eu pudesse chegar até onde estava o artista, a música foi abruptamente interrompida, bem no meio da sequência melódica, por dois policiais municipais que começaram a interpelar não-sei-o-que ao jovem violinista.

Eu, que, embora estivesse em cima da hora para um compromisso, também estava ávido por continuar ouvindo o concerto, fiquei parado, olhando a cena, curioso para saber o que aqueles policiais falavam ao rapaz. O que poderia ser tão importante que pudesse justificar a interrupção de uma apresentação tão bela?

Tomando, obviamente, os devidos cuidados – a Guarda Municipal do Rio de Janeiro tem se mostrado bem violenta nos últimos meses – fiquei de longe, como quem olha a paisagem, observando o que acontecia, para saber aonde aquilo iria dar. Não consegui: passados três ou quatro minutos, a conversa estava agitada, o jovem músico gesticulando e argumentando com os policiais, e eu, já atrasado, resolvi ir ao meu compromisso.

No caminho, fui imaginando como seria bom se a Prefeitura, ao invés de interromper uma apresentação de música clássica, que normalmente não é acessível, senão a pouquíssimos privilegiados, e que estava acontecendo ali, ao ar livre, para todos que passassem, resolvesse fomentar, e até promover momentos como aquele, subsidiando artistas como aquele jovem violinista para que possam se apresentar à população, montando arenas para isso, por exemplo, ali mesmo, no Largo da Carioca.

Esse tipo de subsídio não é gasto, não é custo, é investimento em cultura; é uma forma de mudarmos o comportamento da população, sua maneira de ver o mundo; é o primeiro passo para diminuirmos o abismo cultural existente entre aqueles que têm a oportunidade de se desenvolver culturalmente e a imensa maioria da população, que vive para suprir suas necessidades básicas.

Muitas são as ações a serem realizadas pelo Poder Público para melhorar a vida das pessoas, mas, por mais numerosas, imperiosas e urgentes que elas sejam, nada impede o incentivo à cultura, porque somente com ela formaremos um país verdadeiramente desenvolvido.

Grande abraço.

Douglas Drumond.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Douglas,
Gostei muito de suas observações. Realmente a Prefeitura (Guarda Municipal) não está fazendo o que realmente devia fazer. Pode ser que esses "oficiais da lei" não gostassem de boa música! Mas, garanto que esse guerreiro não desistirá de mostrar seu trabalho. Parabéns pelo bloq!
Abraços,
Roberto

Douglas Aslan Drumond disse...

É isso, Roberto, esse cara é um guerreiro. Espero que não desista de difundir cultura e boa música. Obrigado por seu comentário.
Grande abraço.

Licy Drumond disse...

Perfeita a descrição do fato. Perfeita a análise do embate entre os protagonistas.
Perfeita a avaliação do momento atual, em que a cultura e o saber agonizam para dar espaço à bossalidade e à ignorância.
Parabéns pelo blog PERFEITO!
Beijos. Licy

Douglas Aslan Drumond disse...

É... mãe é mãe! :)