segunda-feira, 27 de julho de 2015

PMs em serviço mataram em média 6 por dia em 2014 no Brasil

Alguém disse que não há pena de morte no Brasil. Será mesmo??? Notícia de hoje no G1 dá conta de que em 2014 houve 2.500 mortes em "confrontos", sendo 2.368 civis e apenas 132 PMs.

A notícia pode ser lida no link http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/brasil-teve-mais-de-23-mil-pessoas-mortas-por-pms-em-servico-em-2014.html.

Obviamente, lamentam-se as mortes das 2.500 pessoas, sem exceção, sejam elas PMs, sejam elas civis, mas a pergunta que fica é: quem são realmente os "bandidos" aqui?

O fato é que, quando as instituições não funcionam, o que se vê é a barbárie, seja ela praticada pelas autoridades, seja pela própria população, que, bombardeada pelo eficaz serviço de divulgação do medo prestado pela imprensa, reage ela mesma com violência desmedida, da mesma forma que animais selvagens fariam.

Faltando a mim autoridade para falar sobre o tema, transcrevo um trecho do sensato e altamente esclarecedor livro "A questão criminal", do renomado criminalista argentino Eugenio Raúl  Zafaronni:

"Ademais, o modelo vigente autoriza um uso de violência que, em alguns momentos, atinge o limite do massacre: as execuções sem processo disfarçadas de enfrentamentos são uma realidade policial, as detenções sem outro objetivo senão fazer estatística somente reafirmam a imagem negativa, o afã por mostrar eficácia leva à tortura e à fabricação de fatos, que podem ir desde a acusação de um inocente vulnerável, até uma emboscada onde várias pessoas são executadas. Tudo depende do grau de deterioração institucional que se tenha alcançado.

Esse modelo não apenas leva a uma claríssima violação de direitos humanos dos elementos mais vulneráveis da sociedade, como também atinge os direitos humanos do próprio pessoal policial, que enfrenta péssimas condições de trabalho.”

É preciso entender que a criminalidade é assunto muito sério, que tem de ser tratado com extrema responsabilidade; sem vinganças; longe o império da ira.

Grande abraço.

Douglas Druond


quarta-feira, 15 de abril de 2015

Ainda a redução da maioridade penal

Acabei de ver a esclarecedora e competente reportagem do programa Profissão Repórter sobre a redução da maioridade penal. Nela fica muito claro o equívoco que infelizmente o Poder Legislativo brasileiro está prestes a cometer, encarcerando jovens que deveriam estar sendo educados, ensinados, direcionados a uma vida de trabalho honesto e honrado.

A reportagem teve a felicidade de mostrar duas faces de uma mesma moeda: de um lado, a realidade sob a qual vivem crianças e adolescentes que acabam praticando atos infracionais, uma realidade cercada de pobreza, drogas, falta de estrutura familiar, e de inúmeros chamamentos à delinquência; de outro, um grupo de políticos ávidos por fazer seus nomes às custas da sensação de insegurança da população e da equivocada ideia que as pessoas têm de que diminuir a maioridade penal vai diminuir a violência.

Nessa ânsia por ganhar espaço político, assessorias de imprensa de parlamentares cercavam o repórter Caco Barcellos, para que seus assessorados, todos a favor da diminuição da maioridade penal, fossem entrevistados. Casos ridículos, como o de uma assessora, que abordou o repórter da Globo pedindo que entrevistasse um Deputado Federal que é jornalista e que, segundo ela, "tem uma coisa maravilhosa", que é um balde que ele coloca no chão do estúdio, e toda vez que ele não gosta de alguma coisa ele chuta o balde: "- Agora eu vou chutar o balde dos menores infratores! E chuta o balde"... É esse o tipo de gente que apoia essa irresponsabilidade social.

Pior, como parte do jogo, os parlamentares informavam números absurdos sobre a participação de adolescentes em ocorrências policiais, números esses divergentes entre eles mesmos, e depois desmentidos na própria reportagem (hoje a participação de adolescentes não chega a 2% do número de ocorrências, enquanto os números fornecidos pelos parlamentares eram de 10%, 30%, 60% e até 72%). Ficava visível tratar-se de gente que sequer sabia o que estava dizendo.

Ao mesmo tempo, a reportagem mostrou o bom exemplo vindo de Belo Horizonte, em que o adolescente detido num dia tinha sua audiência marcada para as 9h da manhã do dia seguinte, com um juiz, um promotor e um defensor, dali saindo já para cumprir a medida socioeducativa a ele imputada, tudo de forma clara e responsável.

Mostrou também o bom exemplo da Fundação Casa de Osasco, indicando que aquela instituição vem se transformando realmente em um local de reeducação e ressocialização dos internos que lá estão. Lá os adolescentes têm aulas com professores da rede pública de ensino e há reuniões periódicas com os pais dos adolescentes, na própria Fundação, onde eles têm a oportunidade de acompanhar o desempenho escolar dos filhos.

Entrevistou profissionais que trabalham com adolescentes infratores, e que portanto vivem essa realidade diuturnamente, tanto em Belo Horizonte, quanto na Fundação casa, em Osasco, os quais se posicionaram contra a redução da maioridade penal, dizendo o óbvio: que esses menores têm de ser orientados.

Entrevistada, a presidente da Fundação Casa, Berenice Gianella, informou que os atos infracionais graves envolvendo morte praticados por adolescentes não chega a 3% dos casos da Fundação Casa, e disse que a maioria dos países trabalha com a idade penal de 18 anos, como é hoje no Brasil. Informou ainda que a reincidência em atos infracionais envolvendo menores da Fundação Casa, de 2005 para cá, caiu pela metade (de 29% para 15%), fruto exatamente desse trabalho de ressocialização, envolvendo atendimento individualizado, além do apoio e participação da família do adolescente.

Estamos vivendo no Brasil um momento político que envolve uma carga de ódio muito grande, da qual se nutrem certos políticos que irresponsavelmente buscam fazer suas carreiras. Isso é um erro muito sério, sobretudo quando a "bola da vez", o objeto de toda essa pirotecnia são nossos jovens.

Pensemos no Brasil com responsabilidade.

Grande abraço

Douglas Drumond.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

A peste da corrupção tem cura?

Normalmente, os textos que posto aqui no Las Brujas são meus; mas o artigo abaixo, do professor Luiz Flávio Gomes, é tão esclarecedor, que achei por bem transcrevê-lo na íntegra. Esclarecedor, porque mostra que, desde que, com responsabilidade, planejamento e muito trabalho, é possível acabar com esse mal que nos assola. O artigo foi publicado no site Jus Brasil. Aí vai...

“A peste da corrupção tem cura?
Hong Kong mostrou, em poucas décadas, que a corrupção tem cura. Fez tudo certo: educação, prevenção e repressão (tudo junto). No Brasil, no entanto, prepondera a ideologia de que somos o “vale das propinas” (coirmã da ideologia do “vale das lágrimas”, que diz que passamos pela Terra apenas para sofrer, daí a necessidade de salvação). Aqui achamos que a corrupção não tem cura. Dizem: “é da nossa cultura” (por essa via algumas autoridades e empresários tentam justificar suas bandalheiras); “está enraizada”; as bandas podres das classes dominantes, as que corrompem na casa dos bilhões (veja Petrobras, Carf, Trensalão etc.), afirmam: “desde a Bíblia já se fala em corrupção”; “sempre foi assim”. Resultado: quanto mais naturalizada, mais impune fica a corrupção. Como era e como ficou Hong Kong depois das medidas anticorrupção?
Diante do rápido desenvolvimento econômico e social, se Hong Kong não tivesse adotado medidas certeiras calcula-se que atualmente estaria no patamar de China, México, Argentina e Indonésia, países que de acordo com o ranking mundial de corrupção 2014, da ONG Transparência Internacional, estão entre as posições 100º e 107º, dentre 174 países. O Brasil ocupa a 69ª posição. E Hong Kong, que nos anos 60/70 era considerado um dos territórios mais corruptos do mundo, está na 17ª posição, à frente de Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo. Evolução impressionante em menos de meio século. Como isso se tornou possível onde vigorava a cultura do “money tea” (dinheiro do chá), que equivale ao nosso jeitinho?
Todos os setores sociais (com destaque para a polícia) achavam-se completamente contaminados pela “cultura da corrupção”. Em 1971 começou a grande virada, com a descoberta do caso “PF Gedber” (policial que ficou rico com a corrupção). Ele se aposentou. Após incontáveis protestos da população, em 1974, foi criada uma das organizações anticorrupção mais poderosas do mundo: a Comissão Independente Contra a Corrupção (algo que poderia ser imaginado no Brasil, mesclando agentes do Estado com a sociedade civil). A Comissão, inovadoramente, com três departamentos, focou em educação, prevenção e repressão. A ponte para a solução real do problema é composta de três vias.
Qual o seu legado? Uma só via (repressão) não funciona. É como cortar grama, que renasce. Só indo à raiz é que se resolve o problema. O Departamento de Operações centraliza todas as “denúncias” de corrupção (assegurando o sigilo e dando apoio ao denunciante) e faz as devidas investigações com rapidez. Luta com denodo pela “certeza do castigo”. O Departamento de Prevenção difunde práticas e procedimentos que reduziram drasticamente a quantidade de corrupção; o Departamento de Relações com a Comunidade cuida da educação e propaga os malefícios da roubalheira. Usa propagandas massivas. Atua em escolas, organizações distritais, no setor público e no privado: educa os jovens, difundindo ética e moralidade aos cidadãos. Em todas as apresentações as personagens protagonizam dilemas éticos, vencendo sempre o honesto.
O Índice de Liberdade Econômica 2012, da Fundação Heritage, com sede nos Estados Unidos, apontou uma tolerância mínima para a corrupção em Hong Kong e eficácia exuberante nas medidas anticorrupção da cidade. Em outra pesquisa, feita pela ICAC, numa escala de 0 a 10 onde zero é extremante intolerante à corrupção e 10 totalmente tolerante, os cidadãos de Hong Kong obtiveram uma média de 0,8 pontos na última década. Mudanças de valores são mais importantes que apenas reformar as leis penais. A via repressiva exclusiva, sobretudo quando populista, satisfaz a ira da população irada, mas não resolve o problema. Se Hong Kong, uma nação que tinha uma posição muito pior que a do Brasil anos atrás conseguiu, por que não podemos conseguir?
Luiz Flávio Gomes: Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).”

Grande abraço

Douglas Drumond

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Diminuição da maioridade penal: um retrocesso!

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados deu hoje o aval para que a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos possa tramitar nas duas Casas (Câmara e Senado).

O Poder Legislativo brasileiro com isso inicia um grande retrocesso em sua lei penal, indo na contra-mão do que se espera de uma nação que, ao menos no slogan, se diz "educadora"!

Ao contrário do que muita gente boa pensa, o direito penal não existe para punir as pessoas, mas para proteger seus cidadãos do poder punitivo do Estado. As penas existem para trazer segurança social, mas sempre visando a uma sociedade livre, justa e solidária. E deveria fazê-lo através da ressocialização daqueles que infringem as regras sociais.

A própria lei de execução penal (lei 7.210/84), já em seu artigo inaugural, menciona a efetivação da "harmônica integração social do condenado e do internado" como objetivo principal da execução da pena.

Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) confere ao menor de 18 anos uma série de direitos, os quais na prática já não são cumpridos pelo incompetente Estado brasileiro, entre eles, habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade; receber escolarização e profissionalização; realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; ter acesso aos meios de comunicação social, receber assistência religiosa; etc.

No afã de dar à sociedade a resposta que sai na imprensa, aquela que muitos querem ouvir, como se fosse resolver ou ao menos atenuar o problema da violência, o mesmo Estado omisso em seus deveres para com seus jovens, agora propõe, de maneira irresponsável e vil, jogar justamente aqueles que, pela idade, teriam mais chances de se ressocializar, no mesmo espaço físico de presos veteranos, sujeitos às mesmas penas e a um ambiente ainda mais pernicioso.

A verdade que as pessoas não admitem enfrentar é que a solução do problema demanda dinheiro, vontade política e o fim definitivo de ganhos escusos, provenientes da promiscuidade entre policiais (mais graduados ou menos graduados), políticos e traficantes (maiores ou menores). Mais fácil é, sem dúvida, atribuir a culpa ao inimigo comum da sociedade, o bandido e o adolescente de comunidades pobres.

Como já vaticinou o Ministro Marco Aurélio Mello, "não vamos dar uma esperança vã à sociedade, como se pudéssemos ter melhores dias alterando a responsabilidade penal, uma faixa etária para se ser responsável nesse campo. Cadeia não conserta ninguém".

Palmas para a incompetência e a irresponsabilidade!!!

Grande abraço,

Douglas Drumond

domingo, 15 de março de 2015

A pirotecnia oportunista de Bolsonaro

O deputado Jair Bolsonaro (PP/RJ) protocolou esta semana na Câmara dos Deputados um pedido formal de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, por meio de um documento em que apresenta “denúncias” (é o próprio documento que utiliza o termo) por supostos crimes de responsabilidade da presidente.
Digo supostos, porque o documento apenas repete o que se diz aqui e ali, na imprensa e nas redes sociais; fatos que, embora críveis, não passam de especulações ainda não provadas.
Longe de imaginar que a presidente seja uma vítima inocente nesse mar de lama que no Brasil atende pelo nome de jogo político, entendo que esse é um tema que deve ser analisado com absoluta isenção, evitando agirmos tão-somente sob a égide das paixões políticas e filosóficas de esquerda ou de direita, contra ou a favor do governo. É preciso que cada cidadão entenda o momento político que vive o país e que aja com responsabilidade, seja nas opiniões que emite, seja nas manifestações públicas de que participa.
Maior responsabilidade ainda deveria ter quem, investido de um mandato de deputado federal, se arvora oportunisticamente em apresentar um pedido de impeachment desprovido de um embasamento real, fundado simplesmente naquilo que se diz por aí. O documento, disponível em vários sites na internet (é só “dar um Google”) é uma espécie de discurso de palanque travestido de peça jurídica, um conjunto de acusações sem o mínimo acervo probatório, um “sei-lá-o-quê”, que parece ter como único objetivo aproveitar o momento de instabilidade para fortalecer politicamente quem o assina.
De verdade, eu gostaria imensamente de ver o atual governo fora da Administração Pública; pessoalmente, não tenho dúvida de ser este um dos governos mais incompetentes que já tivemos na história do país; também acho que nunca a coisa pública foi tão vilipendiada como tem sido nesses últimos anos, levando em consideração todas as notícias que a imprensa divulga, todas as investigações da Polícia Federal etc. Entretanto, há que se ter em mente que a democracia exige responsabilidade no trato de um tema tão sério quanto este, e não o oportunismo de alguns.
É preciso lembrar que a presidente acabou de ser eleita para seu segundo mandato, tendo (infelizmente) vencido nas urnas, com apoio da maioria (apertada, mas a maioria) da população. E não se diga que não se sabia de tudo o que estava acontecendo, porque as operações na Petrobrás já estavam sendo investigadas antes das eleições. E mais, a população não apenas referendou os quatro primeiros anos de governo da presidente, mas também os doze anos de governo do PT, é bom que se diga. Portanto, querer depor a presidente na marra, sem um conjunto probatório parrudo, é no mínimo golpismo, coisa que, aliás, também não é de admirar, vindo da cultura castrense do deputado Bolsonaro.
Em suma, os ânimos estão acirrados, a perplexidade da população é legítima, da qual eu mesmo compartilho inteiramente, mas é um risco enorme para a democracia as pessoas se deixarem levar por essa pirotecnia oportunista de quem não tem, nem nunca demonstrou ter nada a perder com o enfraquecimento dos institutos democráticos.
Grande abraço.
Douglas Drumond

quarta-feira, 11 de março de 2015

A solução foi outra...

Melhor prevenir do que remediar. Mais rápido e eficiente do que conceder indulto para livrar quem já foi condenado é articular preventivamente no STF.

A presidente Dilma Rousseff está há mais de 7 meses inerte na indicação de um sucessor para a vaga deixada pelo ministro Joaquim Barbosa no STF, e essa inércia acabou virando uma carta na manga. Explico: com o STF incompleto, a Turma que julgará as ações da Lava Jato (a 2ª Turma) é justamente a que tem um ministro a menos, fato que deu ensejo a que o ministro Dias Toffoli tomasse a iniciativa de solicitar sua inclusão naquela Turma.

Mais que isso, o atual presidente da Turma, Teori Zavascki, está terminando seu mandato, e é tradição no STF que assuma a presidência o ministro com menor tempo, e que ainda não tenha exercido o cargo, ou seja, Toffoli.

O Ministro Dias Toffoli, que já foi advogado do PT, solicitou no dia de ontem sua inclusão na 2ª Turma. A presidente Dilma já tem hoje uma reunião marcada com ministro Toffoli, reunião esta que não estava prevista na agenda.

É claro que uma coisa não tem nada a ver com a outra, certo? Afinal, a presidente Dilma, até pelo cargo que ocupa, é absolutamente isenta nisso tudo. O encontro com o ministro que presidirá a Turma que julgará os corruPTos da Lava Jato, apesar de imprevisto na agenda presidencial, é para tratar de assuntos outros, nada a ver com a Lava Jato, é óbvio!

Grande abraço.

Douglas Drumond

sábado, 7 de março de 2015

STF manda investigar 12 senadores e 22 deputados de 5 partidos na Lava Jato

Sem crise, meus caros corruptos, fiquem tranquilos, daqui a alguns meses, a Presidente assina um indulto livrando todo mundo, e tudo bem!!!

Douglas

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Mais um jovem morto. Até quando???

Foi divulgada pela imprensa esta semana a gravação da morte do jovem Alan de Souza Lima, feita a partir do celular da própria vítima, na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro.

A gente está acostumado a ver e ouvir notícias e estatísticas sobre violência, mas ao ouvir o áudio com a gravação do homicídio não pude conter as lágrimas e um imediato sentimento de revolta contra tudo isso que aí está. Revolta não apenas contra a falência e a falta de estrutura dos órgãos de segurança pública, que mandam às ruas policiais completamente despreparados para a função, mas também contra essa sociedade que insiste em marginalizar pessoas, rotulando-as com a pecha de bandidos, pelo simples fato de serem jovens negros ou pardos, moradores de comunidades carentes.

Para que quem não ouviu a gravação entenda meu estado de espírito ao ouvi-la, vai aí a explicação: o áudio indicava um grupo de jovens conversando alegremente na rua, coisa que qualquer jovem faz rotineiramente, quando de repente, um deles, de brincadeira, toma o celular do outro e corre, momento em que se ouvem tiros e gritos. Passa-se a ouvir então (o áudio foi editado pela emissora de rádio) a vítima gemendo, agonizando, e um de seus amigos dizendo baixinho "- Senhor, me ajuda! Me ajuda, Senhor!", e em seguida a pergunta do policial: "- Correu por quê?", com a resposta do rapaz em tom desolado:  "- A gente só tava brincando, senhor...,". A emissora ainda repetiu o áudio, mas eu àquela altura já estava tão perplexo, que minha reação imediata foi simplesmente retirar o fone do ouvido para não ter que ouvir aquilo de novo.

É revoltante o fato de que, caso esse áudio não tivesse sido divulgado (na verdade se  trata de um vídeo), este evento entraria para as estatísticas policiais como tendo havido resistência por parte de jovens em flagrante delito (era isso que dizia o relato dos policiais antes de vir à tona a gravação). É este tipo de estatística que recebemos em forma de notícia todos os dias: números e fatos não raramente irreais, forjados. Este é só um caso que, milagrosamente, por um capricho do destino, veio à baila, a indicar que há muitos e muitos outros.

É sobretudo estarrecedor o fato de as pessoas clamarem por leis penais mais rígidas, imaginando que assim estarão mais protegidas. Estão cegas; não enxergam que nosso problema é institucional, é político, é social. Está no policial despreparado, no sistema penitenciário falido, nas autoridades corruptas, na falta de oportunidade que leva os mais vulneráveis a uma realidade criminosa.

Portanto, não me venham com soluções simples! Elas até podem existir num primeiro momento, em casos muitíssimo pontuais, mas têm de vir acompanhadas por uma reforma institucional profunda (polícias militar e civil, secretarias de governo, órgãos de gestão e sociedades civis) e também por ações sociais relevantes que garantam oportunidade às pessoas.

Só assim teremos uma sociedade livre, justa e solidária!

Grande abraço.

Douglas Drumond.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Protesto fecha Ponte Rio-Niterói no sentido Rio

Acontecendo agora, 10/Fev/2015, ao 12h50m. Cerca de 100 funcionários do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) interditaram nesta terça-feira a Ponte Rio-Niterói, pista sentido Rio para protestar contra salários atrasados. São uns egoístas: é o cidadão que precisa passar pela ponte que tem que pagar o pato? Por que eles não protestam em frente às casas dos digníssimos diretores do Comperj???

Grande abraço

Douglas Drumond.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Homem absolvido depois de 10 anos preso

Deu no CONJUR:

“Falta de provas - Homem é absolvido depois de passar quase dez anos preso em SP.

Quase dez anos depois de ser preso sob acusação de latrocínio (roubo seguido de morte), um homem de 29 anos foi absolvido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por falta de provas. A corte avaliou que a condenação se baseou apenas em supostos depoimentos de parte dos réus à polícia — que não foram confirmados no processo — e numa denúncia anônima.

Segundo a denúncia do Ministério Público, ele e outros cinco homens haviam participado de um assalto a uma loja na zona leste de São Paulo, que resultou na morte do dono do estabelecimento, atingido por um tiro. O réu havia sido condenado a 23 anos e 4 meses de prisão, e a sentença foi confirmada pelo TJ-SP e transitou em julgado em 2006.

A Defensoria Pública do estado apresentou ação de revisão criminal, com o argumento de que o rapaz havia sido condenado com base em meros indícios alegados durante a fase de inquérito policial e não comprovados judicialmente. Nenhuma das quatro testemunhas-chave do processo o reconheceu como participante do crime: dois funcionários identificaram apenas três outras pessoas, que entraram na loja, e nem o autor confesso do disparo mencionou a presença dele.

Preso aos 19 anos, quando trabalhava como servente de pedreiro e ajudante de entregas, o homem deixou a Penitenciária de Flórida Paulista em junho, mas a informação só foi divulgada nesta segunda-feira (29/9) pela Defensoria. A unidade, com capacidade para 844 pessoas, abriga hoje mais que o dobro: 1.782, conforme dados da Secretaria de Administração Penitenciária paulista”.

Eis aqui a maior das injustiças: alguém ser condenado por algo que não fez. Assim como o personagem da reportagem do CONJUR, há um sem número de pessoas presas preventivamente há anos, aguardando um julgamento no qual poderiam ser absolvidas, seja por que são realmente inocentes, seja porque não há contra elas provas capazes de condená-las.

O caso em questão é até pior, uma vez que já havia até uma decisão condenatória definitiva, baseada em meros indícios, provas fracas obtidas no inquérito policial, que sequer foram confirmadas no processo.

Penso que, tanto essa decisão teratológica do juiz de São Paulo, quanto a manutenção de centenas de pessoas em prisão preventiva por tempo indeterminado refletem não apenas a crise institucional por que passa o país, sobretudo na área criminal, na qual impera uma verdadeira lei da selva, mas também o famigerado sentimento de vingança da sociedade dominante contra quem ela chama de inimigo comum: o “bandido”, o “ladrão”, o “marginal”, o “vagabundo” que acaba com a paz das “pessoas de bem”, assaltando-as, sequestrando-as, matando-as.

A revolta da sociedade seria até pertinente, se sua expressão trouxesse em si a responsabilidade de quem considera que todos são inocentes até que se prove o contrário. O que acontece, porém, é a massificação da vingança social através desses programas sensacionalistas baratos que nos enchem a cabeça todas as tardes, sob o pretexto de ser isso “informação jornalística relevante”. É notório que praticamente todos os “bandidos” mostrados apresentam as mesmas características: pessoas jovens, pobres, moradoras de favelas, ou seja, são os outros; são pessoas diferentes da ala dominante da sociedade, diferentes das pessoas que consomem, que estudam, que pensam, que agem politicamente. O que não se diz é que essas pessoas que hoje consomem, estudam, pensam e agem politicamente tiveram oportunidade para tal, ao contrário dos “nossos inimigos em comum”, os “marginais”.

Em consequência, quando um desses “marginais” fica anos preso preventivamente, ou, como no caso acima, tem sua vida destruída por uma prisão arbitrária e ilegal, sendo absolvido dez anos depois, a notícia não nos dói, exatamente porque nós não conseguimos nos colocar no lugar dele; na verdade, sequer estamos interessados em nos colocarmos no lugar dele, simplesmente porque isso não é problema nosso, mas sim do outro, do nosso inimigo em comum!!!

É essa a sociedade que queremos, ou queremos uma sociedade livre, justa e solidária como preceitua nossa Constituição?

Grande abraço.

Douglas.