sábado, 28 de fevereiro de 2015

Mais um jovem morto. Até quando???

Foi divulgada pela imprensa esta semana a gravação da morte do jovem Alan de Souza Lima, feita a partir do celular da própria vítima, na Favela da Palmeirinha, em Honório Gurgel, subúrbio do Rio de Janeiro.

A gente está acostumado a ver e ouvir notícias e estatísticas sobre violência, mas ao ouvir o áudio com a gravação do homicídio não pude conter as lágrimas e um imediato sentimento de revolta contra tudo isso que aí está. Revolta não apenas contra a falência e a falta de estrutura dos órgãos de segurança pública, que mandam às ruas policiais completamente despreparados para a função, mas também contra essa sociedade que insiste em marginalizar pessoas, rotulando-as com a pecha de bandidos, pelo simples fato de serem jovens negros ou pardos, moradores de comunidades carentes.

Para que quem não ouviu a gravação entenda meu estado de espírito ao ouvi-la, vai aí a explicação: o áudio indicava um grupo de jovens conversando alegremente na rua, coisa que qualquer jovem faz rotineiramente, quando de repente, um deles, de brincadeira, toma o celular do outro e corre, momento em que se ouvem tiros e gritos. Passa-se a ouvir então (o áudio foi editado pela emissora de rádio) a vítima gemendo, agonizando, e um de seus amigos dizendo baixinho "- Senhor, me ajuda! Me ajuda, Senhor!", e em seguida a pergunta do policial: "- Correu por quê?", com a resposta do rapaz em tom desolado:  "- A gente só tava brincando, senhor...,". A emissora ainda repetiu o áudio, mas eu àquela altura já estava tão perplexo, que minha reação imediata foi simplesmente retirar o fone do ouvido para não ter que ouvir aquilo de novo.

É revoltante o fato de que, caso esse áudio não tivesse sido divulgado (na verdade se  trata de um vídeo), este evento entraria para as estatísticas policiais como tendo havido resistência por parte de jovens em flagrante delito (era isso que dizia o relato dos policiais antes de vir à tona a gravação). É este tipo de estatística que recebemos em forma de notícia todos os dias: números e fatos não raramente irreais, forjados. Este é só um caso que, milagrosamente, por um capricho do destino, veio à baila, a indicar que há muitos e muitos outros.

É sobretudo estarrecedor o fato de as pessoas clamarem por leis penais mais rígidas, imaginando que assim estarão mais protegidas. Estão cegas; não enxergam que nosso problema é institucional, é político, é social. Está no policial despreparado, no sistema penitenciário falido, nas autoridades corruptas, na falta de oportunidade que leva os mais vulneráveis a uma realidade criminosa.

Portanto, não me venham com soluções simples! Elas até podem existir num primeiro momento, em casos muitíssimo pontuais, mas têm de vir acompanhadas por uma reforma institucional profunda (polícias militar e civil, secretarias de governo, órgãos de gestão e sociedades civis) e também por ações sociais relevantes que garantam oportunidade às pessoas.

Só assim teremos uma sociedade livre, justa e solidária!

Grande abraço.

Douglas Drumond.

Um comentário:

Anônimo disse...

É, filho, sociedade livre, justa e solidária está nos anseios de todos os brasileiros, que sofrem mediante tanta vileza daqueles que deveriam trabalhar pelo bem estar do povo, e também, tanto despreparo dos que têm a incumbência de protegê-lo. Mas a sociedade próxima do ideal, por enquanto, está muito longe de ser conseguida. Isso porque há um intencional bloqueio aos caminhos que levam à educação, à conscientização dos direitos e deveres, à moralidade, à civilidade, à dignidade, ao respeito múituo, enfim. É este o Brasil que eles querem. Está ótimo para eles! Todo mundo corrupto, até os pequenininhos. É a lei do "se dar bem". É o "salve-se quem puder". Enquanto isso, os nossos jovens morrem, não só os das comunidades, mas aqueles que têm tênis caros, celulares importados, roupas de marca, etc., porque são alvos também. É a droga em quase todas as famílias. É a , muito bem orquestrada, falência de uma população . Mas isto não é de agora. Não é exclusividade do PT. Isto está arraigado no caráter em virtude da má formação do povo, mesmo o ilustrado. É decepcionante, é desanimador, mas é em meio à desesperança e à situação caótica que surge a reação contrária, na mesma força e intensidade (magnitude e fúria). Isso é histórico. Isso é bíblico. Isso é um fenômeno natural de ajustamento. Beijos, mamãe.