domingo, 9 de outubro de 2011

Uma questão de soberania

Já há alguns dias tenho buscado tempo – e só agora encontrei algum – para escrever acerca de um tema que vem sendo recorrentemente veiculado na mídia nos últimos dias, a atitude absurda da FIFA de tentar estabelecer, durante a Copa de 2014, normas contrárias à atual legislação brasileira, especificamente no que se refere à meia-entrada para estudantes e idosos e a outros direitos do consumidor legalmente resguardados.


Imaginem que a entidade máxima do futebol mundial tem se achado no direito de impor ao Brasil suas regras, desprezando completamente a legislação brasileira. É o que estão tentando fazer, ao proibir a meia-entrada para idosos e estudantes.

No caso dos idosos, o artigo 23 do Estatuto do Idoso garante desconto de pelo menos 50% em eventos esportivos, entre outros. Como se trata de lei federal (Lei 10.741/2003), ficou, digamos, mais fácil de sustentar a impossibilidade de “suspender sua eficácia” durante a Copa. Mas no caso dos estudantes, a meia-entrada é regulamentada por leis estaduais, motivo pelo qual, o Governo Federal já “passou a bola” para os Estados decidirem o que fazer.

Além da meia-entrada, há outras regras que afrontam diretamente o Código de Defesa do Consumidor, regras essas que a FIFA solenemente nos quer enfiar goela abaixo, como, por exemplo, o estabelecimento de cláusula penal no caso de desistência da aquisição do ingresso após a confirmação da compra, ou após o pagamento, mesmo em aquisições pela internet, contrariando o disposto no art. 49 do CDC, que garante o direito de desistência neste caso.

A impressão que se tem – pelo menos é o que a mim me parece – é a de uma postura fraca, inteiramente subserviente da Presidente Dilma Rousseff, ao aceitar discutir minimamente com a FIFA essa verdadeira afronta à soberania nacional, bem como de algumas autoridades públicas, notadamente, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que teve a pachorra de declarar que o Brasil deve ceder às exigências da FIFA porque “nós nos comprometemos a isso, quando propusemos que a Copa fosse realizada no Brasil”.

Ora, senhor prefeito, se alguém se comprometeu, em nome do povo brasileiro, a “suspender” temporariamente nossa legislação – sobretudo a lei consumerista, conquistada a duras penas pela população brasileira – para atender aos desmandos de uma entidade internacional, esse compromisso é nulo, porque nenhuma autoridade pública, nem sequer o Presidente da República, tem legitimidade para, num Estado Democrático de Direito, como é o nosso caso, ignorar as leis vigentes e impor normas alienígenas.

Sinceramente, não sei qual é a opinião do amigo leitor, mas a minha é a seguinte: aceitar a quebra da soberania nacional através da imposição, por quem quer que seja, mesmo que apenas durante o período da Copa do Mundo, de normas que afrontam a legislação brasileira é um preço alto demais para termos uma Copa do Mundo no Brasil. Nesse caso, seria melhor que não a tivéssemos!

Grande abraço.

Douglas Drumond

Um comentário:

Anônimo disse...

Caro Douglas,

Apóio sua visão. Que prevaleça o império da lei. Já basta vermos nossas leis desconsideradas por brasileiros políticos, brasileiros juízes, brasileiros policiais... ter que suportar este descaso/abuso com favorecimento a estrangeiros é o cúmulo.

Uma solução alternativa seria considerar que as leis brasileiras valem apenas para brasileiros natos adquirindo ingresso no Brasil. Assim, meia entrada não valeria para estrangeiro ou brasileiro comprando ingresso no exterior.

Almeida