sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nossas tragédias humanas

Em meio a tudo que vem acontecendo esta semana no Rio de Janeiro, mormente em Niterói, onde centenas de pessoas já perderam suas vidas, e milhares, suas casas, mais uma vez nos deparamos com a triste confirmação da ineficiência e da irresponsabilidade do poder público deste país.


Em âmbito local, Niterói é um clássico exemplo disso: o prefeito Jorge Roberto Silveira tem estado à frente da administração da cidade por 20 anos, desde 1989, período em que governou diretamente como prefeito por 12 anos, e indiretamente (através dos sucessores que conseguiu eleger - João Sampaio, entre 1993 e 1997 e Godofredo Pinto, entre 2004 e 2008) por outros 8 anos. Durante todo esse tempo, centenas de famílias já estavam ou foram se instalando nas encostas dos morros da cidade, áreas de alto risco de deslizamento, sem que o prefeito e seus aliados políticos se dignassem a tomar providências. Providências não apenas de retirar aquelas pessoas de lá, mas principalmente, de construir unidades habitacionais em locais seguros, possibilitando assim a efetiva retirada daquelas pessoas das áreas de risco.


Alheio a isso, o prefeito se esmera em ostentar, como um troféu pessoal, o fato de a cidade ter sido considerada uma das melhores do país em qualidade de vida. Baseia-se em números frios, consequência da grande quantidade de pessoas de classe média alta que vivem na zona sul da cidade e nas praias oceânicas, a chamada "elite" de Niterói, sem atentar para o fato de que há também uma grande massa de pessoas vivendo nas áreas mais pobres, que prestam serviços importantíssimos a essa "elite" (escrevo entre aspas porque detesto esses rótulos ridículos), e que precisam, sim, de uma atuação forte do poder público municipal.


A nível nacional, temos outra faceta da tragédia humana que vivemos, a irresponsabilidade e o oportunismo político do ex-ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que, à frente daquele ministério até 10 dias atrás, repassou 65% dos recursos para prevenção e preparação para emergências e desastres, do governo federal para seu reduto eleitoral, a Bahia, percentual que, para o Rio de Janeiro, por exemplo, não chegou a míseros 1%. É o tipo de situação em que não há o que explicar, senão admitir a gatunagem, o oportunismo eleitoreiro, a velha política nefasta que assola o país desde sempre.


Ou seja, o Brasil vive duas sérias tragédias humanas que se explicam mutuamente: a miséria de sua população e a incompetência irresponsável dos seus políticos.

Grande abraço.


Douglas Drumond

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